"O Porto não é em rigor uma cidade: é uma família. Quando algum mal o acomete, todos o sentem com a mesma intensidade; quando desejam alguma coisa, todos a desejam ao mesmo tempo. Os portuenses são tão ciosos da integridade da sua cidade, como os portugueses em geral da integridade da nação."
João Chagas
1.& 2. Vistas do restaurante Rabelo, em Gaia. 3. Pappardelle divina do Rabelo.
1. Em Gaia brindou-se com LELLO. 2. Na Praça da Liberdade havia sonhos e muitos livros! 3. D. Pedro IV a receber os visitantes da Feira do Livro!
1. A visitar as caves Krohn, em Gaia. 2. Sou da mesma colheita! 3. Porque café só mesmo "A qualquer momento"
Este fim de semana enquanto vagueava pelas ruas do Porto veio-me à cabeça o meu amor de pequena por Lisboa, sempre senti que o meu futuro pertencia a uma cidade viva, disposta a acolher qualquer pessoa, ansiosa por um novo turista, rica em espaços repletos, fértil em ideias inovadoras e espontâneas, coberta por uma luz inexplicavelmente cativante, dona de um brilho especial.
Sempre senti que o meu futuro estava ali, sempre que a visitava sentia-me fascinada, sentia-me em casa. Quanto mais visitava Lisboa menos percebia o Norte. Falavam-me das mulheres com garra, das gentes fortes e guerreiras, mas eu só me lembrava daquele luz apaixonante.
Mas numa troca de momentos, sem puder especificar qual, o Porto ganhou uma atenção especial da minha parte. A curiosidade nasceu em mim, sem grandes porquês, sem pedidos ou explicações, simplesmente nasceu, de forma espontânea e inesperada.
O meu reencontro com o Porto estava destinado, mas desta vez sentido e desejado. Foi a sua luz intensa que me guiou pelas ruas ganhas pelas suas gentes, e foi nessas mesmas ruas que me apresentou a gente sofrida mas capaz de empregar a palavra amor, foi aí que me cruzei com verdadeiros guerreiros calejados pela vida, foi nessas ruas repletas de histórias, de casas ousadas e de monumentos preciosos que descobri que o Porto não se explica, só se sente.
Descobri que o Porto nunca poderia ter a luz viva e alegre de Lisboa, porque no Porto há histórias de vida demasiado duras para se iluminarem de branco. Descobri que as gentes do Porto são guerreiras não por vontade mas sim por necessidade, que aqueles rostos marcantes espelham vidas heróicas. Descobri que o Porto é uma cidade demasiado rica, por isso o seu amor não é gratuito, conquista-se. Foram aquelas ruas que me ensinaram a ser nortenha! "As raparigas do norte (...) Confiam, mas não dão confiança. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem.", Miguel Esteves Cardoso.
Quis o destino trocar-me as voltas e fazer-me ser e crescer de novo longe do Porto. Quis o destino que o continuasse a perceber devagarinho. Quis o destino que eu ainda não fosse do Porto, nem que ele fosse ainda meu. Quis o destino que eu aprendesse o que é isso da pronúncia do Norte. Quis o destino que aprendesse primeiro a colocar a mão na anca. Quis o Norte que eu me fizesse mulher guerreira primeiro, e que só depois me entregasse à cidade. Quis o Porto que saboreasse a fase da paixão antes de consentir o amor. Quis o Porto que sofresse por ele para saber o que é ser da sua gente.